sexta-feira, 21 de janeiro de 2022

[Meus dois centavos sobre...] Mulheres trans não são homens, Mrs. Rowling!

 29 de janeiro: Dia da Visibilidade Trans - Defensoria Pública do Estado do  Rio Grande do Sul

Uma das melhores lembranças da Lady Trotsky até hoje é a entrevista que eu fiz com a Amanda Guimarães (Mandy Candy) lá em 2017 e por um acaso envolvendo uma streamer trans que acompanho, lembrei disso.

Desde então se foram cinco anos e infelizmente, as coisas não mudaram para melhor. Inclusive recentemente fomos obrigados a testemunhar episódios absurdos de discriminação transfóbica perpetrados por uma pessoa que escreveu uma saga exaltando a igualdade e o respeito: ninguém menos que J. K. Rowling, autora da série Harry Potter e mais recentemente, a série policial Cormoran Strike.

Bem, ela não foi a única, mas acabo destacando ela por conta do título desse texto.

Porque não, minha senhora, mulheres trans NÃO SÃO homens. São mulheres como eu e tu.

Elas têm sonhos, desejos, aspirações, querem apenas viver sem serem olhadas torto por gente que não compreende que essas mulheres somente querem buscar sua felicidade, que consiste, no modo básico, em se sentir bem com sua imagem no espelho. Vou além: querem trabalhar, estudar, jogar, praticar esportes de forma amadora ou profissional, cantar num karaokê nas sextas à noite, tomar cerveja (ou qualquer outra bebida) com os amigos, passear com o cachorro na rua, andar por essa mesma rua sozinha ou acompanhada sem se preocupar com algum babaca querendo machucá-las apenas por transfobia.

Isso que eu coloquei apenas o básico no parágrafo anterior, mas deixa eu te dizer mais, cara senhora inglesa: Márcia Rocha foi a primeira travesti a ter seu nome social na OAB. Thabatta Pimenta é a primeira vereadora trans do estado de Pernambuco, eleita pela cidade de Carnaúba dos Dantas. Ainda, essa mulher maravilhosa cuida de um irmão com paralisia cerebral, ainda mais agora que ela perdeu a mãe para a COVID-19. Dona Maria, onde quer que a senhora esteja, te prometo amar e respeitar muito a tua filha e defendê-la de pessoas como a Rowling. João Nery foi o primeiro homem trans que oficialmente fez a cirurgia de redesignação sexual, foi escritor e psicólogo e sempre foi um defensor dos direitos LGBTQIA+ (mencionei ele por conta de todo o trabalho que ele fez em prol dessas pessoas.)  A 3unny 3razil foi uma das primeiras streamers de vídeo game trans, senão a primeira, porque eu não sei essa informação com precisão, da história recente da internet.

Eu queria, então minha cara, te perguntar: o que afeta na tua vida uma pessoa ser trans?

Na minha não afeta nada. Pelo contrário, ACRESCENTA. E como! Me faz agradecer todos os dias por ter sido uma pessoa muito privilegiada em muitos pontos da minha vida e perguntar porque tantos não tem o mesmo privilégio que eu, que no caso, é o direito de viver sua vida sem que os outros fiquem fazendo perguntas idiotas ou comentários estúpidos (Se bem que o fato de eu ser mulher e fora do padrão me coloca em uma situação bem complicada). Me faz um ser humano melhor. Não perfeito, mas melhor todos os dias.

A dama teimosa só queria desabafar. Encerro a transmissão aqui, agora.

Extra: reprise da entrevista com a Mandy Candy.

"1 – Diz aos leitores do blog Rillismo quem é a Amanda Guimarães Borges...

    MC: Uma mulher trans, gaúcha, youtuber, viciada em games e viagens!


2 – Como foi o processo de nascimento do canal Mandy Candy? E de onde veio o nickname?

    MC: Quando deixei o Brasil para tentar a vida na China, minha única companhia era o Youtube. Como não tinha muitos amigos acabava passando grande parte do dia assistindo vídeos de vloggers e canais de gameplay, então pensei que podia fazer o mesmo e falar com a câmera já que não tinha ninguém para conversar! Mandy Candy surgiu do nada, não tinha nome para colocar no canal e coloquei Mandy por causa de meu nome Amanda e Candy pois rima com o Mandy, bem podre eu sei! (risos)


3 – O quão importante você considera abordar a transexualidade nos dias atuais?

    MC: Temos que colocar a cara no sol para mostrar ao mundo que somos iguais a qualquer outra pessoa né? Infelizmente a mídia não costuma abordar o assunto, e quando aborda é de forma estereotipada. Então trago no canal minhas vivências para que as pessoas que me assistam consigam compreender um pouco do que passa com a gente.


4 – Se você tivesse de fazer um paralelo entre ser uma mulher transexual em Hong Kong e no Brasil, onde você considera mais fácil? (Pergunta inspirada no vídeo Brasil X Ásia)

    MC: Aqui na Ásia eu não tenho medo de andar na rua e sofrer agressões. Hong Kong é segura em todos aspectos né? Enquanto o Brasil é o país que mais mata travestis e transexuais de todo mundo.


5 – Quais foram as pessoas mais importantes na época em que você se descobriu e começou a transição?

    MC: Minha família com toda certeza, se não fosse minha mãe acho que não estaria aqui hoje.
    Quando sofria preconceito na rua ou no trabalho eu tinha para onde correr e com quem contar né? Triste que infelizmente não acontece o mesmo com a maioria das manas e manos trans.


6 – Quais são as tuas inspirações para os vídeos?

    MC: Sou muito fã da Youtuber Gigi Gorgeous, a maior youtuber trans do mundo! Com toda certeza é minha maior inspiração.


7 – O quanto, na tua opinião, a representatividade importa em uma sociedade como a nossa?

    MC: O mundo mudou, todos padrões aos poucos estão sendo quebrados e as pessoas estão conseguindo enxergar que a diversidade é muito maior do que elas achavam. Representatividade é importante por causa disso, as pessoas querem se enxergar naquilo que consomem.


8 – Você tem uma playlist que considera A mais importante para a pessoa Amanda?

    MC: Born This way - Lady Gaga
    Me too - Meghan Trainor
    I am the best - 2NE1


9 – Quais filmes ou livros sobre a temática transexualidade você recomendaria aos leitores do Rillismo?

    MC: Livro vou recomendar o meu pode? (Pode sim e deve, linda.) Meu nome é Amanda! Nele abordo o assunto de forma fácil e acessível a todo mundo. Filme gosto muito da A Garota Dinamarquesa (tanto o filme quanto o livro).


10 – Qual foi o episódio de preconceito mais traumático que você sofreu até hoje?

    MC: Um dia voltando do trabalho um carro com vários homens dentro passou do meu lado e quando percebeu que eu era uma mulher trans jogou uma cerveja em cima de mim. Tive outros episódios de transfobia mas esse me marcou pois estava no inicio da transição e foi aí que percebi que minha vida nunca seria a mesma.


11 – Qual foi a parte mais complicada do processo de transição?

    MC: No meu caso foi encarar a sociedade, colocar o pé fora de casa como Amanda sendo que todo mundo te conhecia como um "menino". Encarar os olhares e conversinhas era muito difícil no inicio da transição.


12 – Quais os teus planos para um futuro? Teremos mais um livro da Mandy?

    MC: Esse ano estou me dedicando totalmente ao canal, minha meta é chegar nos 1M de inscritos até junho de 2018, tenho muito a mostrar e quero atingir o máximo de pessoas para tentar mudar o mundo nem que seja um pouquinho. Será que conseguimos? (SIM!)
    Talvez ano que vem tenha outro livro, foi muito bacana o feedback do primeiro!


13 – Qual o recado que você manda aos preconceituosos? E aos leitores do blog?

    MC: Vivam suas vidas! nascemos assim e não tem nada de errado buscarmos nossa felicidade.
    Preconceito não leva a nada, busque conhecer as pessoas antes de julgar."

Sobre Renata Cezimbra

Brasileira e gaúcha com os dois pés e muita imaginação na região do Prata, pois é lá que começa o universo dos Vampiros Portenhos. Onde convergem os vórtices das mais férteis referências de uma dama teimosa, que aprecia pitadas de cultura pop, referências underground e coisas do arco da velha.

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2 comentários:

  1. Oi Renata!
    Temos sim uma sociedade preconceituosa, quão ridículo é essas pessoas, tem uma visão perturbada do certo e errado. Não conhecia a Mandy Candy, achei muito legal saber um pouco de sua história e da sua luta contra o preconceito, que deve ser diária pois sempre surge algum tipo de comentário, vou pesquisar mais sobre ela e segui-la. Obrigado por me apresentar a ela, parabéns por sua matéria, bjs!

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  2. Oi, tudo bem? Achei interessante saber seu ponto de vista acerca do tema. Vi algo a respeito no twitter mas nem me aprofundei. Também sou fã de Harry Potter e não consigo me imaginar sem conhecer essas histórias. Creio que as pessoas têm liberdade de pensar diferente, agir de formas distintas, e cabe a nós respeitá-las. Cada um é responsável pelas próprias decisões e precisa arcar com isso. Gostei da entrevista, não conhecia essa Youtuber. Um abraço, Érika =^.^=

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