[Lady Trotsky Revisa...] Crowley (1987) e Las Cenizas de Crowley (1990) (e sobre como uma dama teimosa encontrou um parceiro inusitado)

Sinopse: Um depravado lord inglês é condenado à morte por enforcamento sob acusações de feitiçaria e pacto com o diabo e no dia de sua execução, jurou retornar dali trezentos anos para se vingar. Em uma noite de lua cheia, exatos três séculos depois, a pequena e histórica cidade uruguaia de Colônia do Sacramento conhecerá um terror sem precedentes.

Título Original: Crowley

Lançamento: 1987 (Direto para a TV.)

Duração: 1h19min

Diretor(a): Ricardo Islas

Gênero: Terror.

Sinopse: Três anos depois dos trágicos eventos do primeiro filme, uma jovem, ainda inconformada com o horrendo assassinato do irmão, planeja com outras três amigas, realizar um ritual para trazê-lo de volta à vida. As consequências de tal decisão, entretanto, serão as piores possíveis e novamente Colônia viverá um terror sem precedentes.

Título Original: Las Cenizas de Crowley

Lançamento: 1990 (Direto para a TV.)

Duração: 1h24min

Diretor(a): Ricardo Islas

Gênero: Terror.

A postagem que inicia o mês de Abril no blog (e eu espero pelo menos dois posts semanais por aqui a partir de hoje) é uma dupla revisão cinematográfica e o que veio disso.

Tudo começou há pelo menos um ano e uns meses, quando, acessando um outro blog com uma lista bastante completa de filmes de vampiros, encontrei duas produções uruguaias das quais eu até então não tinha ouvido falar, Crowley, de 1987 e sua sequência direta, Las Cenizas de Crowley, de 1990. Ambos dirigidos pelo “pai do terror uruguaio” Ricardo Islas (1969). Caso alguém tenha feito as contas de cara e não está acreditando, eu explico isso mais para frente no texto.

As tramas muito me chamaram atenção embora a do segundo filme seja meio batida, considerando que já fizeram MUITO disso em produções dos anos 70. Mas como de jeito nenhum eu encontrava o primeiro filme depois de ter encontrado o segundo no YouTube (no canal New Alpha Studios, do próprio diretor, onde tem outros filmes dele, dos quais dois que já vi vão ganhar revisão aqui), eu tive de apelar ao também diretor Felipe M. Guerra, especialista em encontrar as maiores raridades do mundo em termos de filmes, já que, como vim a descobrir algum tempinho depois, os filmes aqui revisados são produções feitas direto para vídeo, o famoso SOV. Portanto, encontrar para download é uma tarefa das mais difíceis. Isso quando se consegue. Mas vamos ao que interessa, o review.

Crowley (1987), foi o primeiro longa-metragem da carreira do Islas, mas não o primeiro filme da carreira dele, pois um ano antes, um média-metragem chamado Posesión, feito para a TV local, marcou a estreia dele como diretor. Sim, vocês não estão delirando. Ele era apenas um garoto, ou pibe, como se diz na região do Prata, de dezessete anos quando dirigiu pela primeira vez, mas quem consolidou o título, altamente merecido, de "pai do terror uruguaio", e com o qual Islas é até hoje conhecido, foi um vampiro selvagem e mudo, muito claramente inspirado no Janos Skorzeny, do clássico Pânico e Morte na Cidade (The Night Stalker), de 1972, por acaso também um filme para a TV, que veio a ser o cerne da clássica série Kolchak: The Night Stalker, que teve apenas uma temporada de vinte episódios, mas se consolidou como uma das grandes séries da história da TV mundial. Vocês podem ler isso e bem mais nessa entrevista aqui: http://www.finalgirl.com.br/2019/04/ricardo-islas-o-pai-do-cinema-de-terror.html

Tecnicamente, o filme não é exatamente perfeito, até porque a equipe toda era de pessoas inexperientes e duas delas só entendiam de produzir telejornal, e carece de muitas coisas em termos de execução, mas sinceramente? Não liguei para isso nem um momento enquanto via. (O Felipe M. Guerra me disse com todas as letras que o filme era super vagabundo, o que em parte eu discordo demais.) O que eu enxerguei, naqueles 78 minutos de projeção, foi um grande amor pelo cinema e o grande esforço de todo mundo do elenco e da parte técnica em fazer aquilo dar certo, mesmo que o próprio Islas não considere esse o melhor filme da carreira dele. O que ele próprio me falou pelo Messenger. Sim, vou explicar isso também mais adiante no texto.

Apesar dos atores serem novatos e muitos até nem atuavam antes disso, fazem um ótimo trabalho e a forma como eles falam e se expressam deixam as cenas bem naturais, fazendo com que torçamos muito para seus personagens conseguirem deter a maléfica ameaça. Mas é claro, o diretor faz questão de quebrar em pedacinhos as nossas expectativas, mas não direi como porque é spoiler.

                Pulemos três anos no tempo e vamos para 1990, quando Islas dirigiu Las Cenizas de Crowley, já maior de idade e um pouco mais experiente como diretor. Além de melhor executado tecnicamente, o roteiro ainda mergulha em uma questão hoje muito abordada, mas que na época ninguém dava muita importância: como lidamos com o luto. Eu não sei se essa era a intenção do diretor quando fez o segundo filme (muito provavelmente não era), mas eu enxerguei com força essa situação. Inclusive é bem difícil ficar indiferente ao fato de que Marta, a personagem que precisa fazer essa ingrata tarefa, vai ser capaz de ir além dos limites morais porque não consegue aceitar a perda.

                As consequências das ações dela, é claro, são as piores possíveis e novamente Colônia do Sacramento está sob um terror sem precedentes e três pessoas corajosas vão precisar achar uma maneira de fazer isso sem permitir que um certo vampiro muito sedento por sangue faça novas vítimas. De novo, o querido diretor dá uma quebrada LINDA nas expectativas de todos nós e é partir disso que eu continuo esse texto, mas falando de como eu criei o universo expandido (vocês podem ler aqui e se assim o desejarem, ir no Wattpad continuar a leitura).

                Como eu sou daquelas fãs que não pensam duas vezes em se aproximar quando a pessoa famosa tem rede social, adicionei o Ricardo Islas e começamos a trocar comentários nas postagens que ele fazia. Até que eu fiz uma pergunta sobre as semelhanças entre ele e o Crowley e ele me procurou no Messenger dizendo que ele não podia responder isso em público e desde então trocamos incontáveis figurinhas sobre cinema e eu, com a cara e a coragem, pedi autorização para escrever um universo expandido em cima dos filmes. Naturalmente, eu pensei que ele ia rir da minha cara porque ele talvez pensaria: como assim uma moça estrangeira queria expandir o universo da obra dele escrevendo? De onde veio essa doida?

                Para minha surpresa, ele aceitou! Ainda por cima, ele amou o que eu fiz e confesso: ainda hoje estou aprendendo a lidar com o fato de que tenho uma parceria meio maluca, com uma diferença de fuso de algumas horas, com uma pessoa humilde, acessível e inteligentíssima que até agora me ensinou muito sobre o personagem dele e com isso, me fez descobrir outras nuances do meu próprio universo literário. Eu só tenho a agradecer por isso e tenho o forte sonho de conhecê-lo pessoalmente.

                Sem contar que eu tenho constante contato também com o Daniel Lacoste, a Fany Bertinat (que amou meu universo expandido e quer muito a quarta parte da segunda história -risos-), a Patricia Diaz Garbarino e a Sandra Casagna, atores dos filmes que eu também achei no Facebook. Já com o Juan Lazzarini, que atuou nos dois, não mantenho tanto contato quanto eu gostaria porque ele não é muito de rede social. Todos são gente boníssima e sem dúvida, sou a maior privilegiada por ter conseguido algo que a maioria apenas sonha: ser amiga de tanta gente pioneira e maravilhosa.

                Mas isso não me torna melhor que ninguém, e eu nem sonho com isso, me faz aprender a ser uma pessoa melhor a cada dia e não ter medo de sonhar alto. Porque todo o escritor faz isso e faz com prazer.

                Ricardito, Fany, Daniel, Juan, Patricia, Sandra, muchas gracias por me haceren una persona mejor y una escritora sin miedo de hacer más.